Francisco Brennand: o homem que deu eternidade ao barro
Casa Brenda BrennandShare
Há artistas que passam.
E há os que permanecem, como se o tempo não lhes pudesse apagar.
Francisco Brennand foi — e continua sendo — um desses nomes que o Recife abriga com reverência.
Meu avô nasceu em 11 de junho de 1927, nas mesmas terras onde ergueria mais tarde o seu universo particular: a Oficina Francisco Brennand.
Filho do Engenho São João — e, de certo modo, de suas ruínas —, ele devolveu vida ao barro, à natureza e ao próprio espírito do lugar, transformando a oficina em um espaço vivo de criação.
Desde menino, a arte já o acompanhava. Desenhava caricaturas de professores e colegas, até que, em 1945, o amigo e companheiro Ariano Suassuna o convidou para ilustrar poemas no jornal literário do colégio.

Francisco Brennand e seu amigo Ariano Suassuna - foto: acervo pessoal
Foi o primeiro de muitos encontros entre palavra e imagem que moldariam a sua obra.
Nos anos seguintes, Brennand estudou pintura com Álvaro Amorim e Murilo LaGreca, dois mestres que lhe apresentaram o rigor técnico e a liberdade do gesto.
Mas foi nas mãos sujas de argila — e na alma inquieta de quem busca sentido — que ele encontrou o seu verdadeiro idioma.
O barro como destino
Em 1971, o artista retornou ao antigo Engenho São João, então em ruínas.
Ali, entre o abandono e o silêncio, decidiu reconstruir o espaço — não apenas como ceramista, mas como criador de um templo da arte: a Oficina Francisco Brennand.
Lá, as esculturas multiplicaram-se entre paredes, colunas e jardins, criando um universo próprio, onde o barro, o fogo e o tempo se tornam um só corpo.
Na Oficina, Brennand formou e manteve uma equipe de oleiros e decoradores, muitos deles ainda ativos hoje.
O trabalho ali nunca foi apenas individual: cada peça utilitária e cada escultura monumental surgiam do mesmo gesto, da mesma paixão, em um diálogo contínuo entre técnica e imaginação.
É essa herança viva que permanece, e que encontra continuidade através daqueles que conhecem, visitam ou admiram seu trabalho.

Oficina Francisco Brennand, foto: acervo pessoal
Um olhar sobre o humano e o divino
A arte de Brennand sempre buscou compreender o homem em sua totalidade — entre o sagrado e o terreno, o nascimento e a destruição, o corpo e o espírito.
Ele construiu também a Capela de Nossa Senhora da Conceição, dentro da Oficina, como homenagem à mãe de Jesus, reforçando a dimensão espiritual e humana de sua obra.
E como se o Recife não bastasse para conter sua imaginação, ele levou sua escultura ao mar:
no Porto do Recife, ergue-se o Parque das Esculturas, criado em 2000, com 90 obras celebrando os 500 anos do descobrimento do Brasil.
Ao centro, a imponente Torre de Cristal, com 32 metros de altura — inspirada em uma flor descoberta por Burle Marx —, tornou-se um farol da arte pernambucana.

Torre de Cristal, com 32m de altura, farol da arte pernambucana por Francisco Brennand — foto: Inaldo Lins/Prefeitura do Recife
O legado que permanece
Pela força e singularidade de sua obra, Francisco Brennand recebeu o Prêmio Gabriela Mistral, da OEA, além das Medalhas do Mérito Capibaribe e Guararapes – Grã-Cruz, maiores honrarias concedidas pelo Recife e pelo Estado de Pernambuco.

Francisco Brennand é condecorado com mais alta honraria do Recife - foto: Andrea Rego Barros/Prefeitura do Recife
Mas talvez o maior reconhecimento seja o que se vê ao entrar na Oficina:
o barro, o fogo e a memória respiram em cada peça, em cada gesto dos artesãos que continuam trabalhando lá.
É esse espírito que mantemos vivo na Casa Brenda Brennand, celebrando a obra de Francisco sem pressa, com cuidado e reverência.
Com apreço,
Brenda Brennand